segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Ser mãe de autista é...



Eu já estava pensando em escrever sobre o assunto, quando no fim de semana, teve um episódio em que passamos com o Miguel e depois uma grande amiga me enviou um texto falando exatamente sobre ser mãe e conviver com os medos do dia a dia. Eu tenho a plena certeza de que minha vida mudou completamente, muito antes do meu filho nascer, sei que mudou desde que recebi o resultado de um exame "POSITIVO". A partir daquele dia o medo começou a conviver bem ao meu lado, medo até antes desconhecidos ou até mesmo inimagináveis. E não apenas o medo, mas também dúvidas, inseguranças e incertezas. Acredito que muitas de nós tivemos medo durante toda a gestação de que algo desse errado no parto ou até mesmo na gestação, tememos por nossos pequenos. Depois que nascem, tememos a cada febre, e a cada noticia sobre crianças que vemos nos noticiários, pensamos, "Meu Deus, e se fosse com meu filho?". Conforme nossos filhos vão crescendo a insegurança vai batendo a porta, será que estamos educando da maneira correta? Isso sem falar, nos medos, inseguranças e incertezas ao notar que algo está diferente em nossos filhos. Assim que recebemos o diagnóstico, o medo aumenta cada vez mais, as incertezas do que vai acontecer desde um futuro bem próximo até quando estiverem adultos.

.....

E que comecem os palpites... com certeza, as nossas incertezas ficam maiores quando começam os palpites, e como vem! 
eles parecem não acabar nunca, todo mundo quer dar um palpite ou nos dizer o que fazer. Aí você escuta receitas milagrosas e já fica pensando, fazer ou não? Dieta do glúten e da caseína, vou fazer, de repente outra pessoa vem e diz, "Não faz porque não adianta nada". Tá agitado? Pede medicação, não, tira a medicação e tenta homeopatia, leva ele em todos seus passeios porque ele se acostuma e ainda ele tem direito de sair, não, não leva ele, ele sofre com as sobrecargas sensoriais. Você vai por na escola regular? Eles não estão preparados,e seu filho vai ser excluído, Não, não coloca na escola especial porque eles vão conviver com outras deficiências e podem regredir (Sim, já ouvi isso). Ele tem convulsão? Dá extrato da maconha, e até ajuda a falar, Não, tá louca? é maconha. Dá vitaminas, omega 3, Não, cuidado, excesso de vitaminas prejudicam e muito seu filho, faz terapias todos os  dias, estimula em casa, faça o máximo possível de estimulação.

Não, cuidado em sobrecarregar seu filho, ele é uma criança e não pode ter agenda de adulto porque acaba não evoluindo também. Você não sai com o seu marido sozinhos? você precisam de um tempo juntos, Não acredito, você tem coragem de sair só com seu marido e deixar seu filho em casa com outra pessoa? Você não vai as reuniões de família, Você sabe que ele dá trabalho então porque vai nos jantares de família? Seu filho está sem limites, no meu tempo se acertava isso com uma bela cintada, você não corrige? Você esta brigando com seu filho, e deu uma chinelada, como você é cruel, ele não entende, não se bate em criança. Você não deixa ele brincar com outras crianças, ele precisa disso, porque você deixa ele perto de outras crianças? sabe que ele vai empurrar ou bater. Você parou de trabalhar para ficar com ele? Toda mulher tem que trabalhar e é bom que você fica um tempo longe do seu filho pra descansar. Você trabalha? Seu filho precisa ficar com você, ninguém cuida tão bem como você. E por aí vai... 

Se eu for ficar falando sobre os palpites não termino o texto tão cedo. Mas é assim, e ficamos sem saber o que fazer, sem saber a quem ouvir, que conselho seguir. Como se já não bastasse todas as nossas inseguranças.Vivo me culpando por tudo que acontece de errado com meu filho ou pelas atitudes erradas que acabo cometendo com ele por impaciência, medo e exaustão mental. Mas quem nunca se culpou por uma maneira em que agiu de uma maneira extrema com seu filho? No sábado saímos como Miguel para um local muito lotado de gente, com medo de que ele não se sentisse bem, eu já dei o respiridona antes de sair, em torno de uma hora antes do horário de costume pra que ele ficasse mais calmo quando chegássemos. O fato é que ele não aguentou o sono e já dormiu antes de chegarmos. E enquanto ele dormia eu comecei a me sentir culpada porque sei que ele adora passear, aí comecei a ficar em dúvida, será que fiz certo? Dei o remédio antes pra que ele ficasse calmo diante de um grande desafio, nem foi tão antes assim, mas talvez eu deveria ter dado só na volta pra ele aproveitar o passeio, mas o local estava tão lotado que até eu fiquei incomodada.

Foi aí que eu percebi que acho que nós mães vamos sempre conviver com a culpa, seja por um motivo ou outro, 
se fizermos podemos nos sentir culpada e se não fizermos também podemos nos sentir culpada por não ter feito. Acho que nunca estaremos 100% satisfeitas, a culpa sempre estará ali. A nosso favor ou contra nós, em algumas alturas da nossa vida apodera-se de nós um sentimento de culpa. A mente ativa a preocupação, revê vezes sem conta as escolhas ou ações e os resultados envolvidas, experienciamos um enorme sentimento de remorso que, para muitos parece um misto de náusea e um senso palpável de arrependimento muito significativo. Algumas pessoas sentem que devem punir-se com a negação ou com a auto-sabotagem, como punição, quando se sentem “culpados”. Elas não acreditam que os sentimentos de culpa são castigo suficiente para o seu mal-estar. Às vezes, retardar uma recompensa ou uma coisa boa, pode ajudar a sentir-se menos culpado. Na verdade, isto não passa de uma ilusão. A auto-punição, na grande maioria das vezes pode machucar ainda mais a pessoa que vive com o sentimento de culpa. Se a interpretação da culpa nos servir, nos engrandecer e for adaptativa e adequada funcionará certamente como um elemento para o nosso desenvolvimento pessoal.

Vamos ser gentis conosco, ter a plena consciência de que tentamos sempre fazer o melhor, se erramos algumas vezes, foi tentando acertar, e por sermos humanos, algumas vezes vamos errar, ninguém é perfeito o tempo todo, fazemos o melhor que podemos por nossos filhos. Não ganhamos nada e nem nossos filhos quando estamos somente a pensar se fizemos certo ou não. Olhe para o seu filho e veja se ele é feliz, se a resposta for "SIM", pronto, você já acertou, não tem que se culpar por nada, o importante é seu filho ser feliz e você também. Sabe quando vejo que estou acertando? Quando vejo meu filho todo sorridente e feliz. Às vezes a culpa se torna nosso sobrenome, desde o diagnóstico. O que fiz de errado para meu filho ser autista? Quem nunca se fez essa pergunta? Sensação de ter feito tudo errado até agora e impotência por não saber como devem ser os próximos passos. Está claro que, na maioria dos casos, a culpa é parte de uma armadilha que criamos para nós mesmos, mas quer saber?  o medo, a culpa, a insegurança batem a porta, pra me perguntar se estou realmente sendo a melhor mãe que posso ser… E é por causa dela, que sou a melhor mãe que o Miguel poderia ter! Pois é através deles que procuro melhorar e acertar a cada dia.


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