quarta-feira, 18 de julho de 2018

No meio de todo esse turbilhão... apenas um Menino... Autista... mas é um Menino!




Me lembro nitidamente do dia em que  bem cedo eu sai de casa para a "resolução do caso" como os médicos diziam, sem data para voltar para casa. Deveria ser apenas 3 dias como a maioria das mulheres que vão à maternidade ter um bebê mas não era, meu caso era muito mais que delicado, estavam com poucas vagas em UTI Neonatal aqui em Londrina, e talvez até mesmo precisassem me transferir para Curitiba. Depois de tomar meu banho e me arrumar, fui até o quarto do Miguel e sentei na cama dele com todo cuidado para não acordá-lo. As lágrimas já começaram a cair. Eu nunca tinha deixado o meu menino por mais que poucas horas e agora eu não sabia quantos dias ficaria sem vê-lo. Como será que ele ficaria sem eu? O pai tinha que trabalhar e por isso ele ficaria com a vó paterna.



Eu sabia que ela cuidaria muito bem, mas o coração de mãe não consegue se acalmar. Como seria a alimentação dele que já está tão restrita a mais de 1 ano e agora sem eu pra tentar entender e fazer os malabarismos pra tentar convencer ele a comer algo saudável entre os embutidos e guloseimas que ele gosta de comer. Não conseguia ficar tranquila. Como eu ficaria sem o sol da minha vida também? Eu estava indo buscar minha filha, pelo menos até aquele momento eu tinha muita fé nisso mas não podia deixar de pensar no filho que estava deixando em casa pra isso. sabe aquele sentimento dividido entre a expectativa e a  preocupação, a ansiedade entre a alegria e o medo, eu não sei dizer exatamente o que sentia, mas beijei muito meu filho com todo cuidado pra ele não acordar e fui para o hospital.



Era quarta-feira e naquele dia aconteceu um fato que vale a pena mencionar. Acho  que nós mães depois que temos um filho nunca mais nos "desligamos" totalmente na hora de dormir, vivemos sempre em alerta. Aqui em casa o Miguel dorme no quarto dele já faz um bom tempo mas cada vez que ele se mexe  na cama o pai acorda, as vezes fico até brava porque o pai já se levanta pra ir ver e na maioria das vezes é só o Miguel mudando de posição na cama. Se está acordado então, estamos em cima porque ele sempre aprontam alguma. Naquele dia em fui internada não tinham previsão de quando fariam a cesárea, provavelmente fosse demorar porque não sabiam quando conseguiriam a vaga na UTI pra minha Antonella - então à tarde sem nada pra fazer naquele quarto de hospital, eu fui tirar um cochilo e em pouco tempo fui acordada por uma equipe médica que tinha entrado  no meu quarto para discutir o meu caso, porém na hora que fui acordada eu não me lembrava onde estava e nem mesmo quem era 'rsrs - Quando a médica me perguntou sobre a gravidez eu nem sabia dizer que estava grávida, acho que levou alguns bons segundos pra eu voltar a ficar a par da situação 'rsrs. Acho que como lá eu sabia que não estava com o Miguel por perto eu consegui me desligar e dormir de um jeito que não fazia a anos. Isso aconteceu por 2 vezes.



Durante a minha estadia no hospital o Miguel ficou bem no revezamento entre ficar com o pai e a avó paterna. Eu sabia que cuidariam muito bem dele mas claro que estava morrendo de saudades. No sábado, meu marido iria dormir comigo no hospital porém o Miguel não deixou ele sair de casa, se agarrou no papai e não queria deixar ele sair de casa de jeito nenhum. Quando meu marido me ligou dizendo que o Miguel não queria deixar ele sair, não tive duvidas nem  por um segundo, ele deveria mesmo ficar com o Miguel, eu estava bem e ficaria bem no hospital. com certeza naquele momento o Miguel precisava do pai por perto No domingo eu tive alta. Ao chegar em casa lembro que o Miguel correu até o carro e depois que eu desci ele continuo olhando pra dento do carro como se procurasse por mais alguém, eu sempre dizia a ele antes de ir que eu iria ficar alguns dias fora para buscar a Tonton como carinhosamente a chamávamos - não sei até onde ele entendia mas me pareceu como se estivesse procurando por mais alguém no carro.



Naquela tarde eu fui para o quarto repousar um pouco e o Miguel deitou comigo na cama e foi assim que passou a tarde, quando quis a mamadeira não deixou a avó fazer, fez questão que eu preparasse a mamadeira. Não desgrudou de mim a tarde toda e nas noites seguintes ele sempre exigia a minha presença na cama com ele como se tivesse medo de acordar e a mamãe não estar em casa novamente. Ao mesmo tempo, nos dias que se seguiram ele se tornou mais grudado ainda no pai do que costumava ser. De repente ele queria que o pai fizesse tudo por ele, desde os banhos até a alimentação ele queria que o pai cuidasse dele. Quando meu marido voltou a trabalhar depois dos dias de licença paternidade, antes de ir trabalhar ele tinha que deixar o Miguel já tomado um banho, porque ele não queria que nem eu e nem minha mãe desse banho nele. Como eu estava recém operada acabei deixando essa situação como estava e o pai fazia tudo por ele.



E o pior dia de nossas vidas chegou: a Antonella nos deixou, o Miguel parece ter percebido o clima da casa e ficou bem calmo ajudando em um momento tão difícil, apenas quando o pai ia levar a roupinha para colocar em nossa princesa, o Miguel se agarrou no pai e não deixou ele sair, meu sogro que teve que ir levar. No dia do enterro, levamos o Miguel em um carrinho de bebê e eu que me preocupei com o trabalho que ele daria no enterro, porque ele não fica quieto a sua hiperatividade é marcante, mas para nossa surpresa o Miguel ficou o tempo todo no carrinho com pessoas "desconhecidas", na verdade ele nunca conviveu com elas e não deu trabalho algum, aliás agradeço a essas pessoas solidarias que ficaram com ele em um momento tão difícil pra mim e meu marido, não citarei nomes, mas elas sabem que é com elas. Antes de acontecer o enterro o meu marido levou o Miguel até a nossa filha e lhe disse que aquela era a Antonella, a sua irmãzinha, não temos a minima ideia de ate aonde ele entendeu, mas como meu marido diz em algum lugar ele deve ter guardado a imagem da irmã. 


Chegamos em casa e teríamos que viver uma nova realidade e  no meio de toda a minha dor eu nunca pude me entregar, como o Miguel reagiria ao meu luto? Não dava tempo pra luto muito menos pra dieta, eu precisava continuar a minha vida por ele também. Nunca e eu digo nunca mesmo deixei o Miguel de lado nem por minuto pra viver a minha dor, Depois da perda da minha filha me fez querer o proteger ainda mais, afinal Ele era tudo o que tinha me restado. Porém foi aí que eu comecei a errar... Ah... Nós mães..... erramos tentando acertar... Eu comecei a deixar o Miguel mais solto, não corrigia tanto, afinal não vou ficar brigando com meu filho porque só tenho ele e não sei até quando... sabe esse tipo de pensamento?

O Luto nos faz sentir muitas coisas, porém como é sobre o Miguel que quero falar aqui não vou entrar em detalhes, mas passamos tanto eu como o meu marido a ser pais um pouco permissivos. As vezes eu me sentia tão triste que não tinha forças pra correção e eu deixava pra lá. O Miguel continuou super apegado ao pai. Fomos viajar e dessa vez nossa experiencia de viagem foi até mais tranquila em relação ao Miguel. Até hoje se o pai está em casa ele quer o pai faça tudo por ele, só aceita que eu faça se o pai não está em casa porque ai ele sabe que não tem outro jeito. 



Ele começou a querer me empurrar para fora de casa quando o pai chegava Sinto que o Miguel nunca mais foi o mesmo comigo desde que eu fui pra aquela maternidade, e não está fácil conquistar esse garoto não 'rsrs.  Mas claro que não desisto, ainda que esteja muito difícil - Mas ele ainda é muito carinhoso. me beija muito... Continua me amando mas acho que ele se apegou mais ainda ao pai e meio que acha que eu o abandonei por uns dias e não esquece isso. No meio de tudo o que passamos está aí apenas um menino.... autista... que não sei as reações dele diante do nosso luto e por isso tivemos que tentar continuar tudo como antes mas inevitavelmente houve mudanças... Um menino que sim sentiu falta da mãe e talvez o autismo seja a explicação para a tal reação de "rejeição" da mãe e preferencia pelo pai.



Ainda que não deixe de demonstrar carinho por mim, alias é inesquecível a cena em que eu estava chorando e desmontando o quarto da bebê e o Miguel chega ate eu e me beija... Parece que ele sente quando estou triste e preciso de um carinho... Ainda que muitas vezes eu não faça ideia de até onde o Miguel entenda o que acontece a sua volta, ainda que muitas vezes ele pareça alheio ao que esta a sua volta, ainda que pareça que ele não entenda nada, algumas vezes nosso menino nos mostra que sim ele entende mais do que imaginamos, alias que ele sente mais do que se possa imaginar e apenas algumas vezes ele acaba reagindo diferente do tradicional em algumas situações. Tudo o que vivemos trouxe muitas mudanças de comportamento no Miguel, ele está super agitado, e agressivo, coisa que ele nunca tinha sido, e as crises de agressividade dele acabam sendo sempre direcionadas a mim e não ao pai, muitas crises são quando eu o corrijo, outras eu nem tenho nada a ver com a situação,por exemplo se ele esta fazendo algo que não dá certo ele vem me bater, se o pai o corrige ele bate em mim, se esta em uma crise sempre quer vir descontar sua frustração em mim, e não tem sido nada fácil mudar essa situação.



Mas vou falar do que estamos fazendo pra tentar "corrigir nossos erros" e diminuir impacto de tudo isso em um outro post. Percebemos que ele sentiu bastante os dias que eu não estive em casa e talvez a minha maneira de acabar sendo menos severa com ele após todo o ocorrido acabou agravando sua reação. Não é facil acertar sempre, e as vezes erramos inconscientemente, outras vezes erramos tentando acertar mesmo, ser mãe é isso e é lutar todos os dias pra não viver com a tal da "mea culpa", acabamos por nos culpar sempre por tudo, por mais que tentamos ser a mãe ideal, sempre nos culpamos se algo dá errado, mas precisamos nos lembrar que somos boas mãe e fazemos o melhor que podemos, fazemos de tudo para acertar e nossos filhos nos amam assim como o amamos do jeitinho que eles são...



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