quinta-feira, 23 de junho de 2016

O Autismo e a Alimentação




Se nós mães passamos por desafios todos os dias, acho que um dos que mais preocupam as mamães de autistas, é a seletividade alimentar que muitas crianças possuem. Nós crescemos ouvindo dizer que é preciso ter uma boa e balanceada alimentação com frutas, legumes, verduras e cereais mas se crianças típicas podem passam por fases de não querer se alimentar, as crianças autistas muitas vezes ficam um bom tempo sem querer alimentos e já vi casos de crianças que tiveram que se alimentar por sonda, mas não quero te desesperar logo no início, vamos conversar um pouquinho sobre isso.
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Comecei a dar papinha para o Miguel quando ele tinha 6 meses, e ele nunca foi muito fã de comida, ou seja, não era algo que ele pedia pra comer quando nos via comendo, mas sempre se alimentou muito bem. Comia uma quantidade razoável de comida e as pessoas sempre comentavam a quantidade excelente que ele comia. Até por volta dos 2 anos ele não gostava de doces, salgadinhos e chocolates, só comia coisas saudáveis como frutas, legumes e comida mesmo, até nessa época a fruta preferida dele era abacate, detalhe, eu odeio, mas era ótima a alimentação. O autismo começou a aparecer por volta dos 1 ano e 5 meses, mas a alimentação não mudou nessa época, embora eu quisesse muitas ver ele comendo um biscoito como as outras crianças, eu sabia que a alimentação que ele tinha era a mais saudável. Depois dos 3 anos ele parou de comer todas as frutas e tomou gosto por aquelas bobageiras que crianças adoram, como refrigerante, salgadinhos, biscoitos recheados, chocolates, balas, mas a comida mesmo, o almoço e janta continuou comendo super bem. A única restrição que ele sempre teve e até hoje tem é com carnes, ele não gosta de carnes, e por isso eu tento sempre dar moída ou desfiada bem pequeno misturada no restante dos alimentos.

No início desse ano, passamos pela fase mais complicada, o Miguel ficou um mês sem aceitar comida, se colocássemos na boca dele ele tirava até o ultimo grão de arroz. Claro que eu fiquei desesperada, afinal ele já não come frutas, apenas maçã e pera, e sucos naturais ele toma muito bem, fiquei super preocupada e corri fazer exames para saber se estava tudo bem, graças a Deus, estava. Depois de alguns dias eu percebi o que tinha acontecido e consegui resolver a situação. Como eu já disse ele não aceita carne em pedaços, mas eu queria tentar introduzir a carne em pedaços e cortei pequenos mas visíveis pedaços de carne e coloquei no prato, quando ele colocou a comida na boca e sentiu a carne ele tirou na hora e não terminou nem de comer aquele prato. Desde aquele dia ele não aceitou mais, nem mesmo a comida sem carne. Como ele adora purê de batata, eu comecei a oferecer apenas o purê, sem arroz nem nada, foram uns 5 dias ele comendo apenas o purê, teve dias que ele não quis, mas depois de 3 dias seguidos sem recusa, eu bati o feijão no liquidificador e misturei, ele aceitou, o próximo passo foi bater o arroz e ele aceitou também. E assim foi, fui batendo legumes e misturando, depois  de mais ou menos uns 10 dias eu parei de usar o liquidificador e só amassei e ele aceitou e graças a Deus voltou a comer normalmente, até a carne moída ou desfiada como antes. Mas foi um exercício de paciência.

Boca suja de chocolate que ele tanto gosta
Isso é comum em crianças autistas e vamos entender um pouquinho o porquê. Para entender  é preciso compreender a rigidez no pensamento e os distúrbios sensoriais, que são características do autismo. Isso quer dizer que a seletividade alimentar não é uma frescura. Muitas crianças que estão dentro do espectro apresentam um paladar restrito. A seletividade pode estar direcionada a uma cor ou tipo de textura, mas muitas vezes não encontramos uma regra ou especificação que a determine, a criança simplesmente não tem vontade de se alimentar. Para as mães destas crianças, as refeições costumam ser momentos tensos e desafiadores. Uma verdadeira batalha diária. É importante primeiro você ter a certeza de que não é nenhum fator médico ou físico como refluxo, constipação, diarréia crônica, alergias alimentares, atrasos motores orais, disfagia, esvaziamento gástrico retardado. Depois de descartadas essas condições é preciso lembrar que muitas crianças apresentam reações emocionais extremas aos alimentos, devido ao seu tipo, textura, cor, temperatura, marca ou aparência. Estas crianças podem chorar, gritar , engasgar e vomitar quando pedimos para comer ou provar um pouquinho da comida. Essas reações emocionais são semelhantes aos comportamentos exibidos por crianças com fobias.

Assim , pode ser útil pensar em alguns problemas alimentares como sendo mais parecidos com fobias, ao invés de puramente vê-lo como um comportamento opositor ou manha. 

O Miguel por exemplo, tem as marcas que ele aceita de petit suisse, bolachas, biscoitos, achocolatados, e não é só pela embalagem, ele sente a diferença no gosto e na textura. E essa sensação de fobia também ele já apresentou, quando não via almoçando ou comendo algum alimento que ele não conhecia ele fazia ânsia de vomito. O tratamento de fobia geralmente envolve expor gradualmente a pessoa a objetos ou situações das quais eles têm medo . Se isso for feito com cuidado e de forma adequada, a pessoa com fobia aprende que não há nada a temer. Este é o primeiro objetivo no desenvolvimento da intervenção na alimentação. Você quer mostrar ao seu filho que nada assustador ou ruim vai acontecer quando ele provar alimentos diferentes. A chave é fazer com que o seu filho sinta o sabor da comida. Para isso, inicie colocando o alimento sobre a mesa, no outro dia coloque perto do prato, depois coloque no prato, quando ele estiver mais acostumado com o alimento, incentive-o a tocar com os dedos, depois com as mãos, até que chegue perto da boca e posteriormente experimentando o alimento, faça gradualmente com uma ação por dia.

Outra característica do autismo é rotina e a resistência a mudanças, enquanto nós enjoamos de comer sempre a mesma coisa, o autista pode se sentir confortável com um tipo de alimento e acabar querendo comer só esse alimento. Procure variar aos poucos, acho válido também para crianças que não aceitam legumes importantes por exemplo, usar aqueles poderes mágico de mãe e colocar no meio da receita para que fique meio invisível. Limite a ingestão de líquidos entre as refeições e lanches para somente água. Estabeleça horários de refeições e lanches e procure seguir essa rotina. Tente oferecer o alimento não como uma opção mas como algo que deve ser feito. Dê uma breve instrução e de forma que seja uma afirmação, não uma pergunta. Quando possível, use a mesma linguagem nas suas instruções para que a criança associe essas instruções particulares com a alimentação. É comum ver os pais falando e dando instruções verbais mais ou menos umas de 20 vezes por minuto' rsrs. Quando você dá muitas instruções a criança aprende a ignorá-lo. Uma vez que os pais aprendem a falar com menos frequência e ser diretivos, em vez de sugestivos com as suas instruções, os seus filhos começam a prestar atenção ao que eles falam.

Para introduzir novos alimentos faça com que o seu filho prove novos alimentos tantas vezes o suficiente para desenvolver uma preferência. O primeiro passo é o de determinar quais alimentos devem ser introduzidos. Comece com os alimentos que são semelhantes aos alimentos que seu filho come atualmente . Por exemplo, você oferecer alimentos que são da mesma cor,  textura, ou forma dos quais ele já come. Alternativamente, você pode tentar introduzir uma marca diferente da mesma comida. Quando seu objetivo é expandir a dieta do seu filho  qualquer novo alimento ingerido - independentemente de quão semelhante é ao que ele come atualmente - significa que você fez um excelente passo para alcançar esse objetivo. Peça a criança que apenas dê uma pequena mordida inicialmente. Misture alimentos preferidos a alimentos novos.

Ajudando a mamãe fazer pão
Você pode usar recompensas para incentivar, mas tente nãos usar outros alimentos como a recompensa, embora acredito que cada criança seja única, aqui em casa funciona muito as "recompensas". Se a criança gostar, você pode deixá-la a "participar" da preparação do alimento, isso pode fazê-la querer provar depois. Acho válido as vezes forçar um pouquinho para que a criança coma, claro que nunca com violência ou brutalidade mas... autistas são como qualquer criança, tem suas birras e mimos... De vez em quanto tem que rolar sim uma bronca, dar uma forçada de barra, e nota-se nitidamente que aquela "seletividade" do autismo nem sempre é do autismo... as vezes se chama "birra", afinal antes de autistas são crianças. Hoje o Miguel está em uma ótima fase de alimentação, e quando nos vê comendo algo novo ele pede, e sempre acaba gostando. Está com uma cardápio bem amplo e essa questão de querer provar o que é novo me deixa muito feliz. Antes, quando íamos almoçar na casa de alguém, eu tinha que dar para o Miguel em  casa antes de sair, mas agora ele já come em casas diferentes. E lembre-se alguns dias serão piores que os outros, tolere recusas, elas vão acontecer , temos que ser pacientes, afinal tem dias que nós mesmo não queremos comer comida, toda criança passa por uma fase de não querer comer, você precisa apenas identificar quando esse é o real motivo e quando o motivo tem a haver com o autismo. 


Fonte de pesquisa: Uma voz para o autismo 





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