quinta-feira, 21 de julho de 2016

O transtorno sensorial no Autista



Já faz um tempo que eu prometi um post sobre o assunto, então vamos lá! ..... Uma das coisas que a "neuro" nos fala sobre o autismo quando temos o diagnóstico é sobre o transtorno sensorial, e acabamos não sabendo que também outras  crianças que não são autistas também podem possuir o transtorno, Frequentemente crianças com Transtorno de Processamento Sensorial são mal interpretadas, mal diagnosticada e injustamente punidas, porque suas ações são interpretadas como comportamento "mau", até mesmo mal educadas, em vez de um problema neurofisiológica. A ideia que geralmente fazemos ao falar sobre isso é aquela criança autista que tapa os ouvidos, que são sensíveis a barulhos e luzes fortes, não gostam de etiquetas de roupas, tem dificuldades com alguns tecidos de roupas, mas vai muito além disso, e eu comecei a perceber isso com o Miguel depois que fui pesquisar e conversei com a neuropediatra dele. Eu sempre questionava como o Miguel conseguia andar descalço pelas calçadas quentes do sol em minha casa, ou ainda como ele conseguia andar descalço pelo terreno cheio de pedregulhos, e como ele era "forte" e nunca chorava quando se machucava, apesar que dá pra contar as vezes em que ele caiu, é muito cuidadoso, e acho que em toda a vida só caiu umas 3 vezes. Eu achava que ele não tinha esse trastorno, mas descobri que o transtorno se apresenta de duas formas: hipo e hipersensibilidade, e aí veio a resposta para as minhas dúvidas. 

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Como eu não falo da parte cientifica, até porque não sou profissional para isso, vou resumidamente explicar o que acontece. O TPS (Transtorno de Processamento Sensorial) interfere no processo do cérebro para organizar e interpretar os estímulos externos como o movimento, o toque, o cheiro, o olhar e o som, ou seja dos nossos cincos sentidos. Ele também afeta os estímulos recebidos via sistemas proprioceptivo e vestibular, que têm a ver com a percepção corporal no espaço, equilíbrio e tônus muscular . Funciona mais ou menos assim, o nosso sistema nervoso recebe diversos estímulos através dos órgãos dos nossos cinco sentidos,  e ainda os proprioceptivas e vestibulares. O sistema nervoso, então, organiza estas informações, decodifica-as e responde a elas de forma apropriada, por exemplo, buscando mais de um estímulo que gerou sensações prazerosas e repelindo ou se afastando de um estímulo que gerou sensações aversivas. As crianças autistas, entretanto, apresentam alterações orgânicas que afetam a recepção e a decodificação de estímulos sensoriais. Com isso, estes estímulos podem afetar o organismo da criança de forma exagerada ou diminuída, isto é, gerando muito prazer ou extrema aversão. Desta forma, um estímulo que, para as pessoas que não possuem tal alteração sensorial, gera uma sensação levemente prazerosa ou quase neutra, para uma criança autista pode gerar uma sensação muito prazerosa e, assim, extremamente reforçadora, fazendo-a buscar esta estimulação repetidas vezes. 


As crianças hiposensíveis (buscam sensação / sensory seekers) apresentam as características abaixo:
  • Gosta de balançar, de girar
  • Não compreensão do espaço corporal pessoal, por isso esbarra em coisas ou pessoas
  • Anda pelos cômodos da casa - evitar obstruções
  • Sobe em coisas muito altas
  • Sobe em tudo
  • Não têm nenhum sentido de cheiro e não conseguem perceber os odores extrema
  • Gostam de lamber coisas, acabam colocando tudo na boca
  • Mastiga coisas não comestíveis (como a própria roupa)
  • Perder os recursos de linha
  • Podem ver as coisas mais escuras, ou podem concentrar-se na visão periférica, pois sua visão é borrada central, outros dizem que o principal objetivo é ampliada e na periferia as coisas tornam-se turva
  • Percepção de profundidade deficiente - problemas com jogar e pegar, imperícia.
  • Come excessivamente
  • Constantemente luta com os irmãos
  • Toca em tudo
  • Brinca com a comida
  • Faz bagunça para comer
  • Enche muito a boca com comida
  • Come comidas apimentadas ou condimentadas
  • Pouca resposta à dor (esquece rapidamente dela)
  • Joga todos os brinquedos pra fora da caixa só pra olhar pra eles
  • Gosta muito de brincar com lama, água, sabão, e outras coisas bem sensoriais
  • Gosta de alimentos muito condimentados
  • Come de tudo - o solo, a grama, materiais.
  • Pula muito
  • Em alto limiar de dor / temperatura Ou seja, parecem não sentir dores
  • Auto-agredir
  • Gostam de objetos pesados em cima deles.
  • Gosta de andar descalço
  • Mastiga a escova de dentes
  • Não consegue ficar sentado quietinho na cadeira
  • Cai da cadeira sem razão aparente
  • Procura barulhos altos (aumenta o som da tv, coloca brinquedos barulhentos próximos ao ouvido, gosta de secador de cabelo, aspirador de pó,  batedeira, liquidificador etc)
  • Não consegue regular bem o próprio volume da voz
  • Cheira tudo
  • Pode não reconhecer sons particular
  • Gostam de lugares lotados e barulhentos, cozinhas, portas e objetos.


Por outro lado, há as crianças hipersensíveis (evitam sensações / sensory avoiders). E podem apresentar:

  • Dificuldades em atividades que incluem o movimento, como o desporto
  • Dificuldades em parar rapidamente ou durante uma atividade
  • Dificuldades com as atividades onde a cabeça não está na posição vertical, ou quando os pés estão no chão.
  • Dificuldades com habilidades motoras finas, a manipulação de pequenos objetos (botões, amarrar cadarços de sapatos)
  • movimentos de corpo inteiro a olhar para alguma coisa.
  • É excessivamente seletivo com a comida (prefere uma textura específica ou sabores básicos)
  • Cobre as orelhas quando há barulho (odeia aspirador, liquidificador, secador de cabelo)
  • Não gosta de ser tocado (não é uma criança que curte abraço ou ficar aninhada no colo)
  • Odeia etiquetas e costuras das roupas
  • Cheiros podem ser intensificados e avassaladores
  • Problemas com banheiro
  • Não gostar de pessoas com perfumes distintos, shampoos, etc
  • Não gosta de colocar sapatos (ou prefere somente um tipo de sapato)
  • Evita atividades que sujam (lama, areia, etc)
  • Volume de ruído podem ser ampliadas e em torno de sons distorcidos e confusos
  • Incapacidade para cortar sons particulares - dificuldade de concentração
  • Limiar inferior de audição, o que os torna particularmente sensíveis a estímulos auditivos, por exemplo, ouvir conversas à distância.
  • Evita atividades manuais como pintura ou massinha
  • Anda nas pontas dos pés
  • Não gosta muito de brincar no playground (subir no brinquedo, balançar)
  • Odeia fralda ou roupa molhada/suja
  • Toque pode ser doloroso e desconfortável e muitas vezes eles vão retirar os aspectos do toque, que pode ter um efeito grave em seus relacionamentos com os outros
  • Não gostam de ter tudo nas mãos ou pés
  • Dificuldades em escovar os dentes e lavar o cabelo
  • Só gosta de certos tipos de roupa ou texturas.
  • Se recusa  brincar com água
  • Não gosta de água no rosto
  • Super sensível a dor (tudo machuca)
  • Evita/recusa adesivos, band-aids, etc.
  • Reclama que a luz normal é brilhante demais
  • Alguns sabores e alimentos são demasiado fortes e irresistível para elas
  • Determinadas texturas também causa desconforto, algumas crianças só comem alimentos suaves, tais como purê de batatas ou gelados.


Quando tivemos o diagnostico do Miguel eu só sabia da hipersensibilidade e por isso achava que ele não tinha, mas depois fiquei sabendo da Hipo e posso dizer que o Miguel tem quase todas características da Hipo mas também não tem todas ou ainda tem algumas da Hiper também como não gostar de lavar os cabelos, ou de água no rosto, recusa adesivos ban-aids, e seus alimentos preferidos são purês, embora aceite normalmente comidas normais. Vou deixar algumas dicas para você trabalhar com seu filho, (mas apenas algumas básicas, existem muitas dicas mais complexas e farei um post apenas com essas dicas) claro que nada substituem a terapeuta ocupacional e o neuro que deve acompanhar seu filho, mas você pode fazer sua parte em casa intensificando o trabalho.

Trabalhe com os mais diversos materiais, exemplos como: Macios: algodão, pelúcia, lado macio da esponja de louça, etc. | Compressores: touca de natação, cobertores ou lycra (para enrolar a criança), pesos sobre o corpo, etc. | Ásperos: lado áspero da esponja de louça, lixa, areia, etc.Sonoros: instrumentos musicais, fone de ouvido, microfone, aparelho de som, etc. | Luminosos: lanterna no escuro, brinquedos que brilham ou com luzes, etc. | Cerdas: espanador, escovinha de cabelo de bebês, pena, etc.| Gelatinosos: massinha, geleca, tinta, etc. | Térmicos: bolsa térmica, gelo, água quente e fria, etc. Vestibulares: cama elástica, rede, balanço, etc. | Massageadores: massageador elétrico ou de madeira, massagens com cremes hidratantes, etc. | Proprioceptivos: piscina de bolinhas, luva de borracha cheia de água, arroz, feijão, etc. 

E para ajudar também tem o livro sensorial que mais uma vez vou deixar o vídeo do livro que preparei junto com a minha mãe para o Miguel. Enfim,  se seu filho apresenta algumas dessas características, procure um neuropediatra ou terapeuta ocupacional com especialização em Integração sensorial. 




Fonte das características TPS : Cora Autismo 



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2 comentários:

  1. Gostei do seu blog. Interessante.

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  2. Este post é muito esclarecedor. Minhas crianças apresentam-se nos extremos distintos, uma com hiper e a outra com hipossensibilidade. Eu também sofri e sofro muito da hipersensibilidade. Quando criança, apresentava muitos traços condizentes com autismo leve, mas acredito que encontrei estratégias para não chegar a ser um caso clínico... Não sei também. Está tudo muito novo para mim. É a primeira vez que vejo a relação entre os comportamentos e preferências como vi aqui. Parabéns!

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