segunda-feira, 18 de julho de 2016

Ensine seu filho sobre as crianças especiais



Impossível escrever esse texto de outra maneira que não seja com muita emoção. Não é um assunto fácil e assim que eu começo a escrever já me emociono, isso porque o meu lado mãe LEOA é aguçado, e tudo o que eu queria todos os dias é proteger  o meu filho do mundo todo, mas nem sempre é possível, tudo o que posso é tentar conscientizar o maior numero de pessoas possível sobre o fato. Tenho algumas situações para contar antes de falar como você poderia ajudar a mim e a milhões de outras mães de crianças especiais.

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Já mencionei em um post que o Miguel vai pra escola de ônibus, e o ônibus que utilizamos é um ônibus exclusivo para as crianças autistas e pessoas adultas, com as mais variadas deficiências mentais que ficam em uma Ala separada da onde fica a sala do Miguel (que é só pra autistas), mas vão no mesmo ônibus, aliás o Miguel é a única criança pequena a utilizar o ônibus, e isso faz dele um "mascotinho da turma" protegido por todos os alunos adultos que vão no ônibus também. Sim, eles o protegem, o que as pessoas julgam dementes sem noção são muito mais educados que muito jovens que vejo por ai, e tratam a mim e o meu filho com muito carinho e respeito, aliás, todos nos cumprimentam e isso incentivou o Miguel que já chega cumprimentando todo mundo. Eu converso com praticamente todos e eles as vezes me fazem rir com o bom humor deles, são  pessoas muito queridas que eu aprendi a respeitar,
e mudou totalmente a minha visão com relação a deficiência mental e talvez é isso que muitas pessoas precisam mudar no jeito de pensar. 
No caminho feito pelo ônibus, nós passamos todos os dias em frente a um dos maiores, se não for o maior colégio daqui de Londrina, e bem no horário que os alunos estão saindo e muitos estão em frente ao ponto esperando um outro coletivo. E esse ponto de ônibus fica em um cruzamento com semáforo, o que sempre faz com que o ônibus pare bem na onde estão estes adolescentes. Quase todos os dias eu vejo um grupinho destes adolescentes apontando para o ônibus e zombando dos integrantes do nosso ônibus especial, e isso me dói lá dentro no coração. Meu filho ainda é pequeno e quem olha para ele pode achar que ele não é uma criança especial, porque não aparece no rosto, o autismo não tem face, mas não é raro as vezes em que passamos por situações de preconceito.

Acho que eu até contei aqui em outra postagem, que um dia eu fui levar  o Miguel na escola e perdemos o ônibus exclusivo e tive que ir com ele em um ônibus normal, nesse ônibus vão também alguns alunos dessa outra escola regular que já mencionei, e nesse dia o ônibus estava cheio desses alunos, além de algumas outras pessoas. Ao entrar  no ônibus, o Miguel me deu o maior trabalho porque foi uma quebra de rotina, e ele aprontou o maior show, com muitas dificuldades por ele ser uma criança tão grande e tão forte para a idade dele, eu consegui entrar no ônibus, este estava lotado mas nenhuma pessoa se prontificou a ceder o lugar, e o Miguel continuava esperneando e querendo descer do ônibus, e para ajudar o ônibus demorou a sair do terminal. Como não bastasse, um desses adolescente gritou "Solta o menino" e caiu na gargalhada seguido pelos amigos que riram também, eu que já estava nervosa sem saber como resolver aquela situação, e sem saber como acalmar o Miguel, gritei em resposta: "Ele é uma criança especial, ignorante". Claro que aí aos amigos desse adolescente riram da cara dele, claro que não é nada demais, mas naquele momento em que eu já estava sobrecarregada com a situação, isso é ultima coisa que eu precisava ouvir.

Não posso culpá-lo, afinal ele não sabia da condição do Miguel, mas me faz pensar "E se quem julgou a mãe fosse o meu filho ?". "E se fosse o meu filho a estar do lado de fora daquele ônibus especial a zombar daquelas pessoas deficientes?" Essa semana eu li um artigo em que falava que devemos ensinar nossas crianças a ter empatia um pelos outros e pelo mundo, segundo o artigo, os circuitos cerebrais para desenvolvermos o autocontrole e a empatia são desenvolvidos ao longo da infância e da adolescência. A família e a escola junto com  a sociedade devem ajudar as crianças e os jovens a desenvolverem o foco em diferentes esferas para que elas estejam aptas a viver bem no mundo moderno e a tomar decisões que ajudem a preservar esse mundo, e eu acrescento que devem estar preparados para conviverem com o diferente. Já foi o tempo em que crianças e adultos deficientes ficavam presos dentro de casa, hoje em dia temos que colocar em prática à tal inclusão, afinal todos tem o mesmo direito. Os pais podem ensinar a criança a cultivar carinho e compaixão. Não se trata apenas de fazer o exercício mental de se colocar no lugar do outro. Diz respeito a de fato estar pronto para ajudar. Há experimentos que mostram que expor as crianças e jovens a conteúdos que enfatizem a importância disso já surtem efeitos.
Não é raro as vezes que vemos crianças apontando uma outra criança especial, e isso acontece em todos os lugares, desde festas até o supermercado. Não é errado, a curiosidade dessa criança pelo o que é diferente, o errado é os pais não ensinarem a respeitar o diferente. 

Ainda essa semana eu também vi o desabafo de uma irmã e até compartilhei no meu facebook, ela e o irmão deficiente visual passaram por uma situação chata em um pátio do prédio em que outra criança apontou e até incentivou os outros a saírem de perto da criança especial, a mãe quando chegou, não fez nada na situação. Eu chorei com o depoimento e sei muito bem o que essa irmã passou com o irmão, sei a dor que deve ter ficado no coração da mãe ao saber da história. Mais uma vez vou afirmar que não é errado a curiosidade da criança pelo diferente, se seu filho ficar olhando para uma criança especial não fique constrangido pela situação mas ajude-o a entender que mesmo sendo diferente, também é uma criança. Você pode evitar o apontar e as frases que essa criança pode falar e aí sim deixar triste o coração da mãe da criança especial e até da criança. 

Não se esqueça que muitas crianças mesmo que não falem ou demonstre estar dispersas, podem muito bem estar entendendo tudo o que você diz. Provavelmente alguma vez você vai passar por isso com seu filho, crianças são espontâneas e falam sem pensar, se seu filho apontar uma criança, você pode começar ensinado-o que isso não é muito educado, encoraje-o a dizer "Oi" mas ensine-o que crianças tem maneiras diferentes de se expressar e se comunicar, talvez  a criança especial não poderá responde-lo da mesma maneira, mas mostre ao seu filho que mesmo assim ela merece ser respeitada. O Miguel não fala e isso faz com que ele se expresse muitas vezes com pulinhos, com gritinhos, e isso quer dizer que ele está muito feliz, e claro que atitudes assim podem chamar a atenção de uma outra criança, "Porque ele grita, ou pula assim?" Aliás, você sabia que seu filho pode conversar com o meu? Meu filho não vai responder com palavras, mas demonstrará interesse de alguma maneira, encoraje seu filho a falar com crianças especiais.

Não há coisa que magoe mais uma mãe de criança especial do que quando alguém ignora o seu filho, não o cumprimenta porque não acha necessário, antes de deficientes, são crianças, são humanos e merecem respeito, isso vale aos adultos, mesmo que você ache que a criança não entenda, faça a sua parte e cumprimenta-a. Alguns princípios a ser ensinado as crianças precisam começar com o exemplo dos pais.  E um outro que precisa começar com os pais é ensinar a não sentir pena, nossa situação pode ser difícil mas amamos tanto nossos filhos que tentamos olhar para o lado bom de tudo, e mesmo a criança que não anda, não fala, tem seus momentos divertidos e não precisa de pena. Ensine respeito com os seus atos. Nunca, mais nunca mesmo saia correndo puxando seu filho pela mão depois que ele disser alguma coisa, isso só deixa a mãe especial mais triste, se achar necessário, peça desculpas e essa é um ótimo momento para você trazer seu filho para perto da criança, aproveite e mostre algo em comum, seja um laço no cabelo, um boné, ou um sapato. Puxe conversa com a mãe, seja antes de tudo educado e assim seu filho aprenderá o mesmo. Depois em sua casa explique com calma que algumas crianças gritam quando estão felizes ou triste porque não aprenderam ou não podem falar, e algumas precisam de cadeiras ou andadores para andar, e que outras não podem enxergar com os olhos mas entendem tudo à sua volta e inclusive podem brincar juntos. Não precisa complicar é só mostrar de uma maneira simples que o diferente existe.

Ás vezes nós adultos que complicamos tudo, vai chegar uma hora em que o seu filhinho vai começar a te fazer perguntas sobre por que a cor de uma pessoa é aquela, ou por que aquele homem é tão grande, ou aquela moça é tão pequena. Quando você estiver explicando a ele que todas as pessoas são diferentes e que nós não somos todos feitos do mesmo jeito, mencione pessoas com deficiências. Mas tenha o cuidado de falar sobre as similaridades também, que uma criança na cadeira de rodas também gosta de brincar, ouvir música, e ver TV, aliás os desenhos preferidos podem ser o mesmo, gostam também de se divertir, e de fazer amigos. Ensine aos seus filhos que as crianças com deficiência são mais parecidas com eles do que são diferentes. e podem e devem dividir o mesmo espaço, afinal as duas crianças tem o mesmo direito de estar onde estão.Aliás a convivência de crianças típicas entre crianças com deficiência desenvolve significativamente a tolerância e a solidariedade. Ocorre uma melhora na qualidade dos relacionamentos. é bom para as duas crianças. Há, inclusive, relatos que mostram que a agressividade e a violência diminuem bastante. As crianças especiais, também são estimuladas pelas outras crianças típicas, alcançando assim progressos muito superiores aos que teriam apenas e casa ou em terapias especializadas, onde estariam “protegidas” desse contato e, portanto, segregadas. Dessa forma, ao participar das brincadeiras regulares, as crianças deficientes desempenham maior quantidade de tarefas do que antes, aprendem mais com o amigo que tem uma habilidade maior, que de contra partida desenvolve características nas crianças ditas “normais” que não seria desenvolvida se ela não se encontrasse nessa situação, na qual ele ajuda o outro, ou o próximo.

A maioria das pessoas não imaginam o quanto podemos aprender com os portadores de necessidades especiais, principalmente as crianças. 
Podemos ver e aprender com as crianças portadoras de deficiência auditiva por exemplo que costumam adorar dançar, e sentem o som e acompanham o ritmo da música pela vibração do chão. Além disso, ainda são capazes de participar de coreografias de danças , como se estivessem ouvindo perfeitamente cada acorde musical. Aliás temos grandes exemplos de músicos com deficiências auditiva e até visual. Já as crianças portadoras da síndrome de Down podem gostar de apresentar peças teatrais. Eles se dedicam muito nos ensaios para realizar um trabalho quase profissional, representando com a emoção e a expressão de verdadeiros artistas. Os portadores de deficiência física, na maioria cadeirantes, são capazes de participar de competições esportivas adaptadas às suas condições físicas. Eles aprendem as regras com muita facilidade e buscam se aprimorar no desempenho das atividades com muita garra e determinação. Às vezes estamos tão presos à perfeição das formas físicas e aos aspectos materiais que esquecemos de observar a riqueza oculta na sua essência. Esses pequenos podem nos ensinar lições valiosas como respeito, dignidade, força, determinação, perseverança, compreensão, compaixão, gratidão e, principalmente, o amor.

Infelizmente uma grande parte da sociedade prefere evitar um convívio mais próximo com pessoas portadoras de necessidades especiais. Na verdade, essa falta de um contato mais direto, seja por medo do desconhecido, desinteresse ou indiferença, impede o aumento dos ganhos recíprocos e da mútua aprendizagem que esses relacionamentos podem oferecer. E se você quiser ver alguns desses exemplos, assista as Paraolimpíadas que em breve acontecerá mas que infelizmente a mídia não dá a mesma importância, e começa por ai a falta da tal inclusão que até já falei em um post e você pode conferir AQUI.  Acredito que um dos principais papéis dos portadores de necessidades especiais é o de nos ensinar a enxergar de verdade e a valorizar o conteúdo e não apenas a forma; eu sempre falo das inúmeras coisas que aprendo com o Miguel e como me tornei uma pessoa bem melhor, não é a toa que podemos comparar essas crianças a borboletas com formas diferentes de voos mas todas voam, ou as flores, com formas e cores diferentes, porém todas possuem uma beleza em sua essência e merece nossa admiração. Se você ensinar seu filho sobre as crianças especiais com certeza acrescentará mais amor e humanidade ao seu filho, e quando crescerem não serão como os adolescentes que contei aqui, e saberão respeitar o diferente. 



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