terça-feira, 20 de setembro de 2016

As lições das paralimpíadas que deveriam perdurar




Sempre fui uma pessoa mais "durona" que demorava a demostrar as emoções, no meu casamento enquanto meu marido estava emocionado eu estava lá firme e forte sem derramar uma lágrima 'rsrs. Isso até o dia que engravidei. Desde então me tornei a pessoa mais emotiva que podia imaginar, sabe aquela pessoa que chora com os comerciais de margarina? Essa sou eu, sou capaz de chorar ate nos filmes de comédia e acho que nunca me emocionei tantos dias seguidos desde que começou as paralimpíadas. E foi uma mistura de sentimentos aqui, primeiro a decepção e a tristeza por nenhuma televisão aberta transmitir aquele espetáculo e posso afirmar com segurança que se tivessem optado por transmitir com certeza teriam uma grande audiência. E que espetáculo lindo!!!! Que cena maravilhosa do cadeirante em um salto de giro de 360º!!! E até uma cena imprevista da queda da ex atleta Marcia Malsar nos trouxe uma grande lição, se não a maior de todas, o cair as vezes acontece, a dificuldade vem, os obstáculos que parecem nos levar ao chão sem a menor chance  de se livrar de uma queda, mas é preciso reunir todas as nossas forças, é preciso se levantar, é preciso continuar, e quando nos levantamos e seguimos em frente, a vida nos aplaude, e com a audição das emoções também podemos ouvir e ver um estádio inteiro em pé nos aplaudindo por não desistir.

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A cada dia que seguia nos jogos, uma lição era mostrada ao público, um exemplo de nunca dizer "Eu não posso, eu não consigo". Muitas publicações compartilhadas em redes sociais denominando os paratletas de "heróis"e acho que são muito mais do que isso, são super heróis, e sabe porque ? Podemos ver um jogo de basquetebol, rugby de cadeirantes com trombadas e bravuras e resistência, natação de atletas sem os membros superiores e inferiores, deficientes visuais jogando futebol, voleibol sentados com cortadas e bloqueios sem tirar o corpo do chão, atletas com paralisia cerebral jogando bocha, hipismo com atletas sem os membros superiores, tiro com arco sem as mãos e por aí vai, tantas coisas incríveis que eu que tenho todos os membros e sem nenhuma deficiência e tantas outras pessoas não conseguimos fazer.

Percebi que se as vezes eu acho difícil o que vivo aqui em casa, mas se eu olhar para o lado existem pessoas com situações muito mais difíceis como  o caso da velocista que contou dormir 10 minutos por noite devido as dores causadas por uma doença degenerativa. É por isso que os considero super heróis, eles fazem além das expectativas e do que é considerado capaz, e a lição que tiro de tudo isso é que podemos sim, podemos tudo o que quisermos se estivermos decididos a conseguir, se buscarmos incansavelmente pela realização dos nossos planos, podemos superar nossos limites, e os nossos filhos também. Enquanto eu assistia a  cada jogo eu imaginava se seria possível um dia ver o Miguel lá, não sei se será uma das escolhas dele, uma das metas do meu filho, não poderia exigir isso dele, Ora... eu jamais vou conseguir ser um super herói desses! Como iria exigir que o Miguel fosse? Mas eu preciso dar a ele TODAS as condições que estiverem ao meu alcance para que ele se desenvolva e seja: feliz, autônomo e independente.

O Brasil conquistou mais medalhas nessas paraolimpíadas, no total de 72 medalhas, conquistando mais medalhas que em Londres, 2012, porem a colocação foi pior, devido as medalhas de ouro, que conquistamos menos nessas paraolimpíadas, em Londres o Brasil ficou em 7º lugar conquistando 43 medalhas ao todo. O Comitê Paralímpico Brasileiro tinha uma meta para essas paraolimpíadas do Brasil, a intenção era que o Brasil ficasse entre os cinco primeiros no quadro de medalhas e isso foi acontecendo durante um bom tempo da competição, porem no final não foi bem assim. O Brasil ficou em oitavo lugar no quadro geral, claro que sendo uma ótima colocação, mas algo que todos não esperavam, isso talvez porque o nível de competição nessas paraolimpíadas estava altíssimo, em cada modalidade era uma disputa, ninguém ganhava uma medalha sem sufoco, os atletas de todos os países estavam preparados para esse momento do esporte. Não deu pra terminar em quinto lugar.. Quem se importa.....Foram 72 vezes que o Brasil esteve no pódio nesses últimos 10 dias.Se já é difícil ser atleta no Brasil, imagine ser paratleta.  


Foram grandes dias de emoções e reflexões, digo por mim mesma, percebi que mesmo com suas limitações são mais que vencedores,a deficiência é apenas um detalhe. 

O céu é nosso limite. Mas se as pessoas gostam de se lembrar das diferenças então vamos celebrar as imperfeições, Não há porque esconder uma limitação, somente quem assume a sua limitação pode receber ajuda. Disfarçar, tentar esconder as falhas, não assumi-las, só faz com que a sua limitação seja ainda mais limitante a você. O atleta paralímpico assume a sua limitação – não há como escondê-la. Essa limitação inclusive o classifica em grupos na competição. O atleta paralímpico não tem orgulho de sua limitação, mas a aceita, declara e se desenvolve dentro das possibilidades que tem.  Infelizmente as paralimpíadas se encerraram neste domingo passado, e agora somente em 2020, em Tóquio que vamos rever novamente os jogos olímpicos e paralímpicos.


Ver o encerramento das Paralimpíadas Rio2016 foi como acabar de ler um livro que de que gostou muito. Você fica meio que numa "deprê" depois que acaba, triste por ver algo tão legal acabar. O legado que fica??? é mostrar para nossos filhos que podemos sim. e podemos mais... e afirmar que cada um pode ser ainda mais capaz. Eu fico imaginando quantas pessoas deixaram de ser estimuladas durante todos esses anos, quando se achava que ter uma deficiência era sinônimo de ficar enclausurado dentro de casa... Mas sabe o que me deixa mais triste? É saber que daqui a um mês toda essa solidariedade que as pessoas demonstraram para com os deficientes vai passar. Enquanto nesses últimos dias eu vi todo mundo no Facebook postando sobre as diferenças serem positivas e todos merecerem respeito, amanhã essas mesmas pessoas vão reclamar quando o ônibus em que estão, demorar 30 segundos a mais para embarcar um cadeirante, essas mesmas pessoas, vão fingir que estão dormindo no ônibus para não dar lugar a um portador de necessidades especiais, essas mesmas pessoas vão reclamar quando estiverem em um hospital e verem uma criança especial ser atendida com prioridade antes do seu filho, essas mesmas pessoas vão apontar uma criança autista como mal criada ou birrenta, ou ainda os pais dessas mesmas crianças autistas como permissivos.
Amanhã a  realidade volta e apenas nós que somos mães especiais é que vamos continuar na luta para que a sociedade aceite nossos filhos com suas diferenças.
É lindo ver tudo de longe, mas a realidade dentro dos nossos lares não é tão simples, matamos um leão por dia e o faremos sempre que preciso por nossos pequenos, só queremos um mundo mais digno, mais tolerante com as diferenças, a gente não vence com o igual, a gente cresce com o diferente. 

Foi maravilhoso poder prestigiar essas pessoas que além de serem atletas paralímpicos, são pessoas que lutam por respeito na sociedade. Não vamos deixar isso de lado, preconceito contra pessoas deficientes existe muito aqui no Brasil e no mundo e essas pessoas se superaram nos jogos paralímpicos. Acabei me questionando quem é o deficiente? Quais deficiências devemos superar? A mentira, o preconceito,a inveja ,a maledicência, o julgamento, o descaso, a desigualdade social etc. Podemos ter uma grande consciência que não existem deficiente. Existem pessoas sem oportunidade. Vamos cobrar que sejam criadas mais oportunidades, escolas mais preparadas para receber nossos filhos. E com isto encontrar novos talentos.  O mais importante desses jogos foi a visibilidade para os inúmeros esportes que tantas pessoas podem vir a praticar,a dedicação de nossos superatletas, as histórias pessoais de superação,a necessidade de maior acessibilidade e inclusão e o mais importante a valorização do ser humano. Os jogos acabaram, mas nossa luta continua...Vamos criar esta cultura (a partir de nós e da nossa casa) de convivência pacifica e aceitação. Deficiente mesmo é o preconceito...


Fonte sobre medalhas e metas: OLIMPÍADAS DO RIO 2016

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