quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Procura-se um amigo para meu filho autista




Recentemente compartilhei em minha página no Facebook sobre o depoimento de um pai contando que seu filho autista escreveu em sua tarefa escolar que não tinha nenhum amigo e isso emocionou a muitas pessoas pelo mundo. Achei o post tão emocionante e tão condizente com a realidade que estamos vivendo com o Miguel que achei que estava na hora de escrever sobre o assunto. Passamos um tempo ouvindo que o autista vive em seu próprio mundo, alheio a tudo o que acontece ao redor e muitas vezes acreditamos nisso ate vivenciarmos o contrário dentro das nossas próprias casas. Chega um dia que percebemos que não é bem assim.

Um dos primeiros sinais de autismo no Miguel logo depois da regressão da fala foi a falta de interação social. Ele não brincava com outras crianças, não procurava elas pra brincar e na verdade ele nem sabia brincar de um jeito convencional. 

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Mas a pouco tempo contei aqui também sobre a nossa imensa satisfação quando a escola nos chamou para sugerir a ida do Miguel a uma escola regular já que ele procura muito as outras crianças para brincar mas por ser uma sala só de autistas, geralmente as outras crianças brincam sozinhas. Sei que é resultado de um trabalho em conjunto  e orientados sempre pelos terapeutas que o acompanham. Ficamos tão felizes com essa evolução mas nunca imaginamos que isso nos traria tantas preocupações e uma dor no coração incomparável. Atualmente estamos passando por uma fase que eu nunca tinha parado para pensar que eu passaria. Aonde quer que vamos e tem crianças, o Miguel quer brincar junto, porém ele não sabe brincar da maneira convencional, as brincadeiras que ele sabe geralmente são de correr, como pega-pega,  e para brincar ele chega até a criança e as vezes empurra e sai correndo esperando a criança ir atrás dele, porém ele é grande e extremamente forte e o empurrão pode ser entendido como uma agressão pela criança típica ou até mesmo pelos pais da criança, embora nós mães de autista nunca o vamos  colocar em situações que causem risco para eles ou para os outros. Nós temos essa sensibilidade.

É preciso entender que uma criança autista também é criança e pode morder, empurrar, pular, beliscar ou ter qualquer atitude que uma criança qualquer tem, assim como é meu dever como adulto reforçar as condutas sociais (não é legal empurrar, não é legal chutar, não é legal morder, etc...) sendo o meu filho uma criança autista ou não. Li também sobre algumas crianças que empurram que se aproxima por achar que seu espaço foi invadido, principalmente crianças com a interação social mais
comprometida, mas esse não é o caso do Miguel, ele empurra para chamar a atenção, e já até contei aqui no blog que a terapeuta nos disse que o Miguel empurra como uma forma de iniciar uma brincadeira, porque ele não sabe como começar e não sabe falar para chamar uma criança para brincar e por isso ele empurra a outra criança. Por inúmeras vezes eu vi o meu filho sendo ignorado, ou as crianças fugindo dele ou até se escondendo dele e isso cortou o meu coração. E mesmo diante de tal situação ele continuava procurando as crianças com um sorriso lindo no rosto. Ele só queria brincar. Não culpo os pais das crianças, na verdade não culpo ninguém, mas acho que os pais poderiam orientar os filhos que existem crianças especiais, que são diferentes em sua maneira de brincar ou de agir, mas que mesmo assim são crianças. Por trás de um comportamento inadequado pode existir uma criança especial que quer apenas se divertir como as outras, mais que não tem controle sobre suas emoções na maioria das vezes ou possui algum movimento diferente que ele também não consegue controlar ou está agitado por ser muito sensível aos ruídos e a tudo o que está  a sua volta. Cada criança autista é de um jeito , cada um tem a sua particularidade mais são apenas CRIANÇAS . 

Conversando com uma mãe sobre o assunto ela me contou sobre algumas experiencias suas com sua filha especial, que não é autista mas é especial, ela disse que quando isso acontece, o marido chama as crianças e explica que sua filha é diferente sim, mas que apesar de suas diferenças ela é uma criança e quer brincar também, e essa amiga me disse que isso tem dado certo, e geralmente a situação é revertida e as crianças tipicas acabam se interessando muito em brincar com sua filha.  E sabe o que me deixa mais triste com tudo isso? É saber que o meu filho entende sim quando é ignorado ou desprezado em uma brincadeira, isso me deixa de coração partido, preferia que fosse comigo, eu não ficaria tão chateada. Engana-se quem pensa que o autista vive em seu próprio mundo alheio ao que acontece ao seu redor. Eles entendem sim, muitos autistas mesmo não verbal mas que de alguma maneira conseguem se comunicar contam como eles tem a exata percepção de tudo o que acontece a sua volta, mesmo quando demonstra estar alheio. Temos que nos lembrar que comunicação vai muito além do falar, precisamos nos capacitar para entendermos as diferentes formas de se comunicar das pessoas com autismo ou qualquer outra deficiência.

se você tenta conversar com uma pessoa que fala um idioma diferente do seu e não consegue entender, o problema não é da pessoa, mas você precisa procurar uma maneira de entendê-la e assim também é com as crianças especiais

É por coisas assim que vemos tantos casos de bullying nas escolas ou ainda nas festas de aniversários de crianças autista em que nenhum convidado apareceu, ou nas festas que nossos filhos especiais deixam de ser convidados. Até quando isso vai acontecer? Autismo não é contagioso. É  por situações assim que vemos os crescentes números de depressão em crianças autistas; na verdade, é mais comum em adolescentes , claro que não só por isso, mas sei que essas situações contribuem, e é ai que eu me preocupo, já vi relatos de mães dos seus filhos autistas dizendo que querem morrer e até mesmo com tentativas de suicídio,  e é ai que eu me desespero, mas tento não pensar no futuro e tento resolver hoje os problemas de hoje. Autismo é uma luta constante e contínua da persistência de ensinamentos para seu desenvolvimento.pessoal, emocional perante a sociedade... O sonho de toda mãe é poder ver o desenvolvimento do seu filho em sociedade. Nas vezes em que passamos por isso, fiquei preocupada em saber se havia alguma forma de ele sentir como era importante e querido, tanto quanto as outras crianças que estavam em volta. Eu estou aprendendo ... acho que isso é o que falta para nós, aprender... Me preocupa o fato de não saber se isso vai mudar. Esses dias eu cheguei na escola no horário em que a sala dele estava no parque e eu vi a mesma situação, o Miguel puxando os amiguinhos pra brincar, mas por ser todos autistas, eles preferiam brincar sozinhos. Entende porque me preocupo?

A interação com outras crianças autistas é difícil porque a maioria prefere brincar sozinha, com crianças típicas ele é deixado de lado por não saber brincar da forma convencional,  com quem ele pode brincar então? como posso ajudar a resolver essa situação? O Miguel assiste a um desenho em que num determinado episodio um garotinho não tinha amigos e então construíram um robô para ser o amigo dele, se eu pudesse faria isso pro Miguel, mas o que posso fazer é dizer que sempre serei sua amiga meu filho, e deixo qualquer coisa quando você quiser companhia pra brincar, seja trabalho, seja serviço de casa, seja redes sociais, você é minha prioridade. Ao pensar em tudo isso, percebi que hoje foi eu, amanhã será você, infelizmente, porque nessa sociedade individualista que estamos vivendo hoje é "normal" as pessoas não estarem interessadas em interagir e viver com as diferenças, me lembrei de uma comparação que minha vó citava em que "os dedos das mãos não são iguais, porém todos pertencem a mesma pessoa, filhos não são todos iguais apesar de terem a mesma mãe, mas esse tipo de pessoa que estamos falando tem todos os dedos da mão igual, não é mesmo? (Não, claro que não, mas essas pessoas são incapazes de perceber isso) ao contrário de nós que são diferenciados, pois cada um tem sua função e beleza.... Coisas que somente mães como nós de filhos especiais mas extremamente felizes dentro de suas limitações podemos ver.

Há claro também aquelas pessoas puras de coração que mesmo não vivenciando o nosso dia-a-dia tem SIM a felicidade de poder aceitar as diferenças porque os dedos de suas mãos também são diferentes como os nossos, mesmo não tendo filhos, amigos, afilhados, netos, sobrinhos especiais, mas talvez um dia possam ter, e se o tiverem vão com certeza saber o quanto eles nos fazem felizes... Porque ninguém quer ser amigo de autista? Porque tantos casos de autistas sem amigos na internet? Uma das características do autismo é a dificuldade ou até incapacidade de mentir, fingir ou disfarçar, isso quer dizer que eles são sinceros demais, e por isso deveriam ser as melhores pessoas para se ter uma amizade, porque será sempre um amigo verdadeiro, às vezes inadequado, mas sempre verdadeiro. Mesmo que não tenham uma lista enorme, os que eles conseguirem, serão privilegiados por ter um amigo tão verdadeiro do seu lado. Porque então tanta dificuldade da parte da sociedade em se permitir ser amigo de um autista? as vezes fingirmos que está tudo bem e que sabemos lidar com essas situações, que não nos afeta, afeta sim, dói, dói muito ver nossos filhos serem deixados de lado, quer brincar com as outras crianças e elas não o aceitarem em seu grupo. Só quem passa por situações como essas sabe o quanto dói... Aquela frase super conhecida se torna muito cabível a esse momento “Não queremos mudar a forma com que nossos filhos veem o mundo. Queremos mudar a forma como o mundo vê nossos filhos.”




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7 comentários:

  1. Amei e bem assim que mim sinto com meu filho autista

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  2. Verdade.....falou muito bemmm.....meu filho de 4 anos....tambem....passa por isso. e peço sempre a Deus quando o levo no parque...que alguma criança sensivel , tenha paciencia com meu filho...ele tambm gosta de correr...e adora crianças, só não sabe como começar a brincadeira...e semana passada fui ao parque e uma meninunha de uns 6 anos, caiu do céu...deu a maior atenção ao meu filho....pegou a mão dele....ajudou a escorregar, passeou pelo parque...nossa minha vontade era de chorar...chorar e abraçar aquela criança....mais não podia...eu tinha que esta ali...só olhando e desejando que aquilo tudo fosse sempre asimmmm....sei que não....mais oro por isso. e já pensei em chegar nas crianças e falar para chmar ele pra brincar...mais tenho medo de me perguntarem o que ele tem...e eu não saber me expressar....pois ele escuta e entende....como explicar para crianças o que é o autismo....ai não é facíl....e já pensei em coloca-lo em escola especial mais não havia pensado na possibilidade das crianças não quererem brincar.....pois individuais...algumas é claro....Não sei o que faço....Deus abençõe nossos lindos anjos....e a nós mães que sofremos muito.....por não querer nossos lindos rejeitados....

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    1. O melhor p eles é tentar manter na escola relugar justamente pela interação eu tbm ja tive um momento da minha vida q pensei em por na escola especial mas não seria o ideal vale à pena lutar por eles... hj o Ruan tá c 7 anos e melhorou mto posso leva lo em um aniversário de criança sem medo oq antes era mto difícil! Mas é mto importante tbm q ele tenho o tratamento especializado não só a escola... o Ruan por exemplo vai ao Caps toda semana

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  3. Lindo texto... Parabéns conseguiu descrever mtas vezes como nos sentimos!

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  4. Infelizmente é isso mesmo. Eu entendo cada palavra dessa mãe. Só Deus sabe a dor que sentimos. A fé nos torna amiga inseparável. Acredito que essa é a finalidade de tal acontecimento; quando sofremos, mos sentimos fracos o q faz com que nos aproximamos de Deus. Buscamos mais ao Pai que nos ouve, nos entende e nos fortalece. Então Bora viver os planos que Deus tem pra nossas vidas!

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  5. Excelente! Me emocionei com seu texto. Meu filho tem 4 anos estou numa fase que assim que ele vê outra criança empurra, isso tem me incomodado muito, estou com sistema nervoso abalado por isso, saio do parquinho vou pra casa e deixo ele de castigo na cadeira e explico que não pode empurrar, que machuca. Mas parece não compreender por que repete a todo momento. Não sei mais o que faço. Ele faz terapias, mas não consigo um psicólogo pra TEA aqui onde moro.

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  6. Boa tarde.
    Não teve como não chorar ... Não sou mãe de autista ,mas posso sentir sua dor,pois não existe algo mais triste do que ver seu filho sendo desprezado . Wue Deus possa abençoar o Miguel. Não conheço mas já amo.

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