sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Cada um sabe a dor que traz no coração



O Miguel é uma criança linda de 5 anos que eu amo mais que tudo nessa vida. Miguel é autista, não fala nada mais que uma meia dúzia de palavras, as vezes até menos, usa fraldas, é hiperativo, as vezes muito nervoso, gosta das coisas do jeito dele e adora bagunçar a casa. Todos os dias acordamos as 5:40hs pra levá-lo pra escola e antes do almoço eu enfrento mais 4 ônibus para buscá-lo na escola, faça chuva ou faça sol. Enquanto isso na escola dele tem alunos que falam, não usam fraldas e que moram até a 3 casas depois da escola, e olhando para alguns pelo menos de longe sem conviver ninguém diz que é autista. Mas nem por isso, só pelo ver, eu posso me dar o direito de achar que a dor do vizinho é menor que a minha e que eu sou uma vitima da vida, que tudo de ruim veio pra mim. Nós como humanos, muitas vezes temos a mania de sempre achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa, achar que a vida do outro é sempre mais fácil, o que não é verdade, uma pessoa que achamos sempre muito feliz, pode estar carregando no peito uma dor muito forte e um sofrimento por trás do sorriso.

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Cada uma de nós temos uma história pra contar, uma dificuldade, um sofrimento, assim como uma alegria e uma realização.
Todo sentimento seja ela a dor, o amor, a felicidade tudo é uma questão de bagagem pessoal. Sei que minha dor não é maior ou menor que a de ninguém...apenas é minha. Essa é a única diferença que a torna especial. Não tenho o filho idealizado, mas o real as vezes é muito mais do que o ideal. O que acontece é que muitas vezes vivemos situações que estão longe de ser o mar de rosas que alguns demonstram viver com o filho especial.



Mas você parou pra pensar que esta pessoa que mostra viver em um mundo cor de rosa pode na verdade só ter escolhido mostrar apenas as coisas boas que vive? Por mais que vibremos com os avanços, por mais felizes que nos façam os pequenos passos dados em direção ao desenvolvimento, existe uma coisa que nos dá um nó na garganta, algo que faz nosso peito apertar. Como eu disse, meu dia a dia não é fácil, tem dias sim que o Miguel está super agitado, tem diversas crises e eu me pego só querendo que o dia termine logo, mas não sou de falar muito desses dias para outras mães por saber que cada uma tem suas lutas diárias, eu escolhi transmitir aos outros as coisas boas que vivencio com meu filho, até porque muitas mães vem falar comigo dizendo que acabaram de ter o diagnóstico do filho, e estão confusas, com medo do futuro sem saber o que vai acontecer, e nesses momentos eu quero transmitir  todo o meu carinho e boas energias, dizer que vai ser difícil sim mas tudo vai ficar bem, imagina como essa mãe poderia se sentir se diante de tantas incertezas eu ainda despejar um monte de leões que eu tenho que matar por dia? Sou realista sim, e não engano ninguém dizendo que será um mar de rosas, mas escolho sempre dizer que apesar dos "apesares" tudo vai ficar bem sim. Apenas não dou ênfase para as dificuldades pois quando olho pro lado sempre vejo que poderia ser pior. Sim, eu aprendi a olhar para o lado e ver que quem está por perto pode estar sentindo uma dor maior ainda, com por exemplo o filho com uma doença em estado terminal, ou com um autismo mais severo que meu filho e a minha aceitação foi maior em parte ao ver as dificuldade das outras famílias, as vezes com casos mais difíceis que o meu. E agradeço por não ter passado ainda pelo mesmo, claro que sabendo muito bem que não estou livre de tal situação, ninguém está, e  ainda posso também passar por isso. Não sei se esse é o modo certo, mas mas também não quero ficar competindo com outras mães quem tem o filho mais debilitado, ou quem sofre mais. Também não quero ser vista como coitada! Só quero que as pessoas entendam as limitações e tente sempre ajudar , mas se não puder ajudar que não venha também me falar coisas que não vão me fazer bem.
O diagnóstico de um filho não é fácil pra nenhuma mãe, assim como não foi pra mim mas me acostumei, a dor passa, eu não quero e não aceito viver sofrendo, tento viver de forma mais leve.
Tento fazer o impossível virar possível e devagar vamos chegando lá. Sofro com os depoimentos de mães em que seus filhos tem passado por fases difíceis e comemoro com os depoimentos de mães em que seus filhos estão em pleno desenvolvimento e superando seus problemas. Mas a dor tem intensidades diferentes nas pessoas e eu sou solidária com a dor do outro, até porque amanhã eu posso estar vivenciando essa dor também. Cada um vive sua dor de forma pessoal e diferente, as vezes o que para mim parece ser simples aos olhos dos outros pode ser muito difícil e assim vice versa. Por isso, julgar jamais, nunca se sabe o sofrimento do outro.

Infelizmente, essa falta de empatia as vezes está dentro das próprias famílias, quando tentam diminuir seu sofrimento, suas angústias, por que o filho de fulano era muito pior. Sim, somos todas mães especiais, mais que mãe, guerreiras... coração de mãe de uma criança especial é  também um coração especial, forte, que sangra e não desiste, que chora e não cai...é sinto que fomos escolhidas por essa força interna que trazemos no coração... só quem é mãe especial sente essa dor, e sabe como é difícil todas as barreiras e obstáculos que nossos filhos não conseguem atingir como os outros da mesma idade deles. Dor que só passa com o sorriso de nossos pequenos .  Passamos por muita coisa, boas e outras vezes não tao boas e uma hora estamos tristes e desanimadas mas também somos felizes com nossos filhos e lutamos todo dia pra conseguir um progresso mesmo que pequeno e quantas vezes nós mesmo nos cobramos muito e as vezes ate nos culpamos de alguma coisa e já estamos numa vida muito cheia de coisas pra fazer e não precisamos  de pessoas que não sabem do nosso dia a dia e mesmo assim ficam nos julgando.  Tenho visto em muitos grupos, mulheres que se acusam, mães que se comparam, em que as dores, sentidas e legítimas, se confundem com os egos feridos. Ao invés disso porque não se unir pela mesma causa, estamos todas em uma mesma luta pelos nossos filhos, apenas batalhas diferentes.
A dor de uma mãe e pessoal e intransferível, é dor doída, dor miúda e constante que às vezes cresce e toma conta de tudo, essa dor as vezes pode estar nos engolindo...ora se camufla pelas conquistas. 
Vivemos esperando dias melhores, assim somos nos, mamães especiais, com nossos filhos, sempre a espera do que eles tem de melhor. Pode ser só um olhar, um sorriso, algumas palavras ou simplesmente eles serem como eles são. A mãe de uma criança especial aprende a ter coragem e perseverança de entender que as coisas não saíram como foram planejadas, mas que nem por isso deixarão de dar certo. Onde o maior desafio é saber respeitar o tempo certo do seu filho, como a curiosidade de uma criança que espera aquele botão no jardim desabrochar numa linda flor. Mais empatia, mais amor por favor...  É só disso que essas mães precisam... É só disso que o mundo precisa...


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